Um Olhar Solidário


Nomeada embaixadora da Boa Vontade para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em 2001, Angelina Jolie publicou, dois anos depois, o comovente relato de algumas das suas visitas a campos de refugiados num livro que agora chegou a portugal.



SERRA LEOA, África
FAWE - Forum for African Women Educationalists

"As raparigas recebem educação e aprendem ocícios. Estão a ajuda-las a tornarem-se independentes. A maior parte destas jovens foi raptada e violada. Entrei numa pequena sala. Duas mulheres tomavam conta de cerca de dez bebés. Muitas mulheres ficaram grávidas quando foram violadas. Os bebés nao tinham brincquedos nem coisas macias e coloridas. Estavam no chao. Rostos lindos.(...)"

Jantar em casa do ACNUR

"(...) Explicaram-me que nos campos há outras vítimas de que nao se fala com muita frequência. Nunca li ou ouvi dalar do que me revelaram. Muitod dos refugiados foram forçados a cortar pessoas. Chegam-lhes uma arma á cabeça ou encostam-lhes uma faca de lado. Passam-lhes para as mãos espadas ferrugentas ou vidro afiado. São forçadas a cortar mãos, pés, ou braços e pernas completos de pessoas que conhecem - com muita frequência, membros da família. Essas pessoas estão a ficar loucas. Já não conseguem funcionar como deve ser. Em muitos casos, torna-se impossível viver com o sentimento de culpa. Não existe praticamente nenhum aconselhamento para estes casos. Mal existe financiamento suficiente para a sobrevivência física, quanto mais para a sua recuperação mental e emocional."

TANZÂNIA, África

Almoço no Sheraton Inn

"(...)Mais tarde descobri o que era a recordação da igreja. Não lhes perguntei na altura porque percebi que não se queriam lembrar. Agora compreendo. Perguntei a Alexandra quando voltávamos para casa. Ela pôs a cabeça entre as mãos e depois olhou para mim. Não estava aqui quando o genocídio da "igreja" aconteceu, mas a história atormenta-a.

Durante uma crise, milhares de pessoas (tantas quantas conseguíram caber) esconderam-se dos rebeldes apinhado-se dentro de uma igreja - pesando que seria o único sitio seguro -, uma casa de Deus. Os rebeldes descobriram-nas lá escondidas e atiraram granadas. Depois andaram por cima de todos os cadáveres, apunhalando-os para se assegurarem que estavam mortos. Os funcionários do ACNUR que conheci nesta tarde contavam-se entre as primeiras pessoas que as encontraram. Descobriram uma mulher viva. os copos mortos inham caído em cima dela, cobrindo-a durante o ataque. Quando lá chegaram, encontraram-na revolvendo os corpos. Andava á procura do marido e do seis filhos. Mais ninguém estava vivo. Se fosse ela, eu teria desejado estar morta. Como é que se sobrevive a uma coisa destas?"